Não se conserta o que já nasce com defeito.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Pate VIII

Naquela noite eu saí pra dar uma volta, precisava pensar um pouco. Enquanto andava acendi um Marlboro vermelho, parei e sentei em um banco qualquer. As pessoas passavam, algumas me olhavam outra apenas ignoravam.
Comprei uma cerveja e voltei a andar. A noite estava relativamente fria, e de alguma forma me veio um endereço a cabeça. Talvez eu tivesse lido em algum lugar, ou sonhado com ele.
-Rua Ernest Edmund, sabe onde é? - Perguntei a uma mulher numa banca de revista.
- Siga reto e dobre a terceira rua a direita, continue andando até encontrar um semáforo, aquele é o cruzamento da Edmund.
- É longe?
- Um pouco, mas dá pra ir.
Sorri, ela sorriu de volta, e voltei a andar. A cerveja já estava acabando, acendi outro cigarro e andei como haviam me explicado.
Enquanto fumava, e andava, me perguntei algumas vezes o porque de estar indo ali, mas no fundo havia a esperança de encontra-lo. Mesmo sendo uma pequena chance, eu acreditava. Me sentia uma  iludida, mas sempre há esperança.
Cheguei na Edmund, tinha várias casas e um ponto comercial já fechado.
Fechei o casaco, pois agora parecia estar mais frio. A iluminação na rua é bem pouca. Mais na frente havia um grupo de amigos conversando e rindo muito alto, não sei ao certo, mas pareciam ser todos homens.
Enquanto eu passava todos estavam me olhando, isso fazia com que eu ficasse extremamente nervosa, acabei tropeçando.
- Cuidado, mocinha. - Falou um deles, todos riram.
Ignorei ele e os amigos e comecei a andar mais rápido, queria correr, sumir dali.
- Não me ignore, Sally. Não finja que não me conhece.
Meu corpo pareceu estar anestesiado, parei de andar, a garrafa que ainda estava em minha mão caiu e minha respiração ficou rápida. Eu não reconheci a voz, ma s ele me conhecia, e isso era assustador. Olhei pra trás e lá estava ele,  com os amigos.
Eu sorri, ele continuava sério.
- Parece que você veio ao meu encontro.
- Na verdade, eu só estava andando e pensando, passei aqui por acaso.
- Não lembra Sally? Eu te disse que estaria aqui, te disse que toda sexta eu estava aqui.
- Disse? Não me lembro. Olha, preciso voltar pra casa, não posso demorar.
- Quer companhia?
"SIM, SIM, SIM, SIM, SIM" estava gritando na minha cabeça.
- Não precisa, estou bem.
- Ah, eu faço questão.
- Não precisa, sério. Você está com seus amigos, não quer incomodar.
- Falando em amigos - disse um rapaz loirinho que estava lá - meu nome é David.
- Ah, sim. Sally.
- Se quiser eu te acompanho Sally. O Johnny nunca faz isso direito mesmo.
Ah, ótimo. Agora eu sabia o nome dele, e ele tem amigos! Enquanto eu estava lá, me sentindo sozinha. Ficar com raiva disso me tornava infantil, mas eu não conseguia evitar.
Ele olhou pra o amigo, o tal do David, e voltou a me olhar.
- Vamos andando - ele disse.
- Realmente não precisa, eu vou só.
- Eu insisto.
E pegou no meu braço. Sentir seu toque era maravilhoso. Acreditei, por pouco mais de um segundo, que ele tinha voltado pra mim. Acreditei que era tão simples. Mas quando olhava pra ele, achava que nada era tão simples assim.

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